segunda-feira, 25 de junho de 2012
SAIBA MAIS!!!
Doença de Alzheimer
1.
Introdução
O processo de envelhecimento produz alterações fisiológicas importantes
no sistema nervoso central, inclusive alterações neuroanatômicas,
neurotransmissoras e neurofisiológicas. Esses processos resultam em sintomas e
manifestações relacionados à idade para muitos idosos (não patológicos). Essas
alterações se desenvolvem de maneiras muito variáveis em diferentes idosos e
podem resultar em sintomas relacionados à idade comuns a senescência benigna,
como diminuição do tempo de reação, hipotensão postural, tontura ou vertigem,
presbiopia, presbiacusia, marcha rígida e dificuldades do sono (Cecil, 2009).
Os distúrbios neuropsiquiátricos, por sua vez, são a principal causa de
incapacidade nos idosos, contabilizando aproximadamente 50% da incapacidade
funcional. Estima-se que condições neuropsiquiátricas graves ocorram,
mundialmente, em 15% a 25% dos idosos. Essas condições são devido a doenças que
aumentam de prevalência com a idade, não fazendo, porém, parte do processo de
envelhecimento normal (Cecil, 2009).
A Doença de Alzheimer é causa mais comum de demência, correspondendo a
mais de 50% dos casos. Acomete 5-10% dos pacientes acima de 65 anos e 20-40%
daqueles acima de 85 anos. Diz-se que a prevalência da demência duplica a cada
cinco anos depois dos 60 anos. Homens e mulheres podem ser igualmente afetados,
embora em termos absolutos, muito mais mulheres tenham a doença de Alzheimer
prevalente, uma vez que vivem mais tempo. Não há diferenças étnicas ou raciais
na doença (Cecil, 2009).
A imensa maioria dos casos de doença de Alzheimer é devida a doença
esporádica (não genética). Entretanto, em um pequeno número de casos, a doença
de Alzheimer ocorre como doença autossômica dominante. Os três genes
conhecidamente envolvidos na doença estão envolvidos com a produção do
peptídeo-β-amilóide,
envolvido na fisiopatologia da doença (Cecil, 2009). Estes casos em geral, são de acometimento
precoce e famílias extensas têm sido periodicamente estudadas (Smith, 1999).
Além
do componente genético, foram apontados como agentes etiológicos, a toxicidade
a agentes infecciosos, ao alumínio, a radicais livres de oxigênio, a
aminoácidos neurotóxicos e a ocorrência de danos em microtúbulos e proteínas
associadas (Smith, 1999).
2.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco estabelecidos para a doença de Alzheimer
incluem idade avançada (> 65 anos) e história familiar. Outros fatores
relacionados são: diabetes melitus, hipertensão, doença cardiovascular e
traumatismo craniano. A evidencia a favor dos quatro últimos fatores é inconclusiva,
mas o consenso é que pelo menos o diabetes e a hipertensão podem desempenhar um
papel na patogênese da doença (Cecil, 2009).
3.
Quadro clínico
Demência pode ser definida como uma síndrome que decorre de doença
cerebral crônica progressiva, onde há perturbações de múltiplas funções
cerebrais superiores, dentre as quais, memória, atenção, pensamento, orientação
temporo-espacial, linguagem, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizado e
julgamento. O diagnóstico da etiologia
da demência degenerativa depende do tempo de evolução da doença e da ordem em
que as funções cognitivas são perdidas. É importante lembrar que na demência
não há obinubilação da consciência (delírio). Há, no entanto, mudança no
comportamento social, da motivação e da labilidade emocional, dentre outros
aspectos, os quais interferem nas atividades de vida diária e social.
A doença inicia-se com amnésia anterógrada e perda do senso geográfico.
Algumas queixas incluem esquecimento de eventos e conversas recentes, colocação
errada de objetos, problemas com o acompanhamento da data, perder-se em
vizinhanças familiares e problemas para lembrar de concluir tarefas. Segue-se
apraxia ideomotora (incapacidade de repetir e executar gestos) e construcional
(incapacidade de operar instrumentos, se vestir, comer, copiar figuras),
diversos graus de afasia, acalculia e graus variados de agnosia. Alguns
pacientes podem apresentar agressividade e hipersexualidade, outros, tornam-se
apáticos. Nas fases mais avançadas, o paciente evolui para déficit cognitivo
grave, apatia e incapacidade de deambulação (distúrbios motores costumam surgir
apenas nas fases finais da doença).
A duração da evolução da doença de Alzheimer é longa, mas muito variável.
O tempo desde a demência leve até a morte pode ser tão curto quanto dois a três
anos ou pode ser além de uma década. Nos pacientes em que é diagnosticada
demência leve, cerca de 10% por ano atingem o estado de demência grave (Cecil,
2009).
4.
Fisiopatologia
Trata-se de uma demência do tipo cortical. Os neurônios do córtex
cerebral (especialmente dos lobos parietais e temporais, hipocampo e núcleo
basal de Meynert) estão depletados de acetilcolina e outros neurotransmissores.
A degeneração neuronal é decorrente do acúmulo de placas senis amilóides
(formadas pela proteína amilóide Aβ) no interstício e de emaranhados
neurofibrilares no citoplasma dos neurônios, através dos quais se faz o
diagnóstico histopatológico da doença. Em um corte microscópico com pequeno
aumento de córtex frontal, temporal ou parietal, pelo menos seis placas
neuríticas devem ser visíveis para fazer o diagnóstico de doença de Alzheimer
(Cecil, 2009).
A localização dos emaranhados neurofibrilares corresponde muito mais
fielmente à evolução clínica de sintomas específicos do que a localização
anatômica e abundância das placas neuríticas. Na doença de Alzheimer, a carga
mais intensa de emaranhados neurofibrilares é no córtex entorrinal e nos
hipocampos, precisamente as regiões que estão envolvidas com a memória
episódica declarativa (Cecil, 2009).
5.
Diagnóstico
É feito pelo quadro clínico compatível e pela exclusão de outras causas
de demência. O exame do estado mental deve demonstrar comprometimento da
memória de curto prazo e outros déficts cognitivos. Nenhum teste de laboratório pode confirmar o
diagnóstico de doença de Alzheimer com suficiente sensibilidade e
especificidade. Pode-se solicitar uma TC de crânio e um exame de sangue
contendo hormônios tireoideanos, vitamina B12, VDRL, etc, a fim de excluir
determinadas condições que apresentem similaridade à doença. Na doença de
Alzheimer, a TC e a RNM podem ser normais ou mostrar atrofia cerebral,
predominando nos lobos parietal, temporal e hipocampo. O SPECT deverá revelar
diminuição da atividade nas áreas cerebrais mais afetadas.
6.
Diagnóstico diferencial
Várias condições que apresentem similaridade à doença de Alzheimer devem
ser excluídas em bases clínicas ou laboratoriais. Uma é a demência com corpos
de Lewy, que é sugerida pela presença de parkinsonismo, alucinações visuais
proeminentes, e um distúrbio específico do sono. Degeneração lobar
frontotemporal é sugerida por alterações proeminentes do comportamento e
personalidade ou por dificuldades proeminentes de linguagem precocemente na
evolução. Esclerose hipocampal tem achados neuropatológicos únicos, mas é
impossível distinguir de doença de Alzheimer por características clínicas.
Outras condições neurodegenerativas que podem fazer diagnóstico diferencial com
doença de Alzheimer são: doença de Huntington, paralisia supranuclear
progressiva, degeneração corticobasal, esclerose lateral amiotrófica e doença
de Wilson. Essas doenças, no entanto, têm manifestações motoras precoces,
diferentemente da doença de Alzheimer.
7.
Tratamento
A doença de Alzheimer é incurável. O tratamento é baseado no uso de
inibidores da colinesterase, sintomático (para alterações de comportamento), e
na relação paciente, familiares e cuidadores. Os anticolinesterásicos centrais
existentes no mercado são: donepezil, rivastigmina, galantamina e a tacrina.
Devido aos seus efeitos adversos, a tacrina não é utilizada hoje em dia (Cecil,
2009).
A memantina é um antagonista do receptor do glutamato não competitivo, de
baixa a moderada afinidade, também aprovada para o tratamento da doença. Não
está claro por que a modulação da neurotransmissão por glutamato é benéfica
para a doença de Alzheimer e estudos da memantina em pacientes com doença de
Alzheimer leve a moderada ainda não foram publicados (Cecil, 2009).
Um estudo de pacientes com doença de Alzheimer moderadamente grave
mostrou que a vitamina E foi eficaz para retardar a progressão, mas estudos
recentes não mostraram benefício em pacientes com comprometimento cognitivo
leve (Cecil, 2009).
8.
Prevenção
Não há terapias preventivas estabelecidas para a doença. Embora uma dieta
saudável, exercícios físicos e atividades de lazer cognitivas estimuladoras
sejam sensatas, não foi demonstrado que protejam contra a doença de Alzheimer.
Uma vez que a doença se torne sintomática, a ajuda para os cuidadores da
família é uma intervenção plausível. Questões importantes de segurança incluem
supervisão de medicações e de finanças. O uso de armas de fogo, aparelhos e
equipamentos potencialmente perigosos deve ser evitada. O uso de identificação
pelos pacientes com Alzheimer é uma outra medida importante, que pode evitar
que se percam.
9.
Referências bibliográficas
Lee Goldman, Dennis Ausiello. Cecil – Tratado
de Medicina Interna. 23ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
SMITH, Marília de Arruda Cardoso.
Doença de Alzheimer. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, 1999.
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